O senador Omar Aziz (PSD) disse na manhã desta quinta, dia 18, um dia depois de vir a público as delações de empresários da JBS, que o Congresso Nacional, os parlamentares da Câmara dos Deputados e do Senado, não têm legitimidade para, eventualmente, eleger um novo presidente da República para suceder Michel Temer (PMDB).
O peemedebista está mergulhado em escândalo que envolve o pagamento de propina pelos donos da JBS, que fizeram acordo de delação premiada na operação Lava Jato, para que o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) se mantenha em silêncio na cadeia. Temer teria dado o aval para a ilegalidade continuar.
A notícia foi divulgada no início da noite de ontem pelo colunista Lauro Jardim, de O Globo.
“Não adianta a gente querer tapar o sol com a peneira, esconder a verdade. Se eu sou citado em uma operação, se outros parlamentares são citados em uma operação, que representatividade tenho para dizer, em nome do povo amazonense, para escolher o novo presidente?”, disse Omar Aziz.
Para o senador , caso a queda de Temer se concretize, a eleição direta é a solução para reerguer o país:
“O Brasil tem condições de se reerguer e escolher o novo presidente por meio do voto direto”, defendeu Omar, para quem Temer já carecia de legitimidade pelas circunstâncias que chegou à Presidência.
Omar também defendeu que Temer renuncie ao cargo. Na opinião dele, seria uma decisão menos traumática, por considerar ainda que o peemedebista não tem mais condições de comandar as reformas de que o Brasil precisa e que estão em andamento.
O senador do Amazonas falou sobre esses assuntos em entrevista que concedeu ao BNC por telefone ao diretor do site, Neuton Corrêa.
Leia e ouça o conteúdo.
BNC – Senador, como o senhor está acompanhando, neste momento, os acontecimentos que envolvem o presidente da República, Michel Temer, e um membro do Senado, o senador Aécio Neves (PMDB)?
Omar Aziz – Num momento desse, em que o país tenta retomar o crescimento, que o país tenta retomar a normalidade econômica, um fato desse é preocupante para todos os brasileiros. Não é só para os políticos, mas sim para a economia brasileira.
Mas, existe esse fato e o fato é grave. Se realmente aquilo que está sendo noticiado for confirmado através das gravações, é um fato muito desagradável.
O presidente já não tinha legitimidade na função de presidente. Ele não havia sido eleito. Assumiu numa circunstância do afastamento da presidente Dilma e eu vejo que, caso se concretize isso, ou ele renuncia ou ele será afastado, mas esse sentimento representa a vontade popular.
Muitas pessoas citadas, inclusive eu, e isso tem que ser esclarecido primeiro, para que possa representar plenamente a população brasileira, para escolher o novo presidente.
Por isso que eu acho que, se isso se concretizar, o Brasil tem condições de se reerguer e escolher o novo presidente através do voto direto.
BNC – O senhor, então, acha que o Congresso Nacional não tem legitimidade para uma eleição indireta?
Omar Aziz – Como vai ter? Não tem. As pessoas têm desconfiança dos parlamentares que os representam nesse momento. Não adianta agente querer tapar o sol com a peneira, esconder a verdade.
Se eu sou citado numa operação, se outros parlamentares são citados numa operação, que representatividade tenho para dizer, em nome do povo amazonense, para escolher o novo presidente?
Não. Isso não está certo. O que é certo é as pessoas, cada uma, em sã consciência, restabelecer a democracia não de uma forma indireta e sim eleger o novo presidente da República.
Isso não é justo com o povo brasileiro, que vem sofrendo cada dia, com cada notícia, cada vez mais há desesperança da população em relação ao nosso país.
BNC – Senador, hoje o noticiário fala muito em renúncia. Qual a sua opinião em relação a essa condição do presidente Michel Temer, o senhor também defende a renúncia dele?
Omar Aziz – Seria uma solução menos traumática. Ele mesmo ter altivez e abdicar do cargo neste momento e dizer: “Olha, eu não tenho legitimidade neste momento”. Para, se realmente ficar claro que ele tentou comprar sua presa [Eduardo Cunha] para que essa pessoa não o delate. Em circunstâncias parecidas (um senador) foi preso e foi cassado pelo Senado Federal, só que foi num rito muito rápido no Senado.
E o rito de presidente não é o rito que se tira um senador da República ou um deputado federal.
Para ele não constranger, para que não se aprofunde a crise econômica, política no Brasil seria um ato dele de tomar a consciência dele que não tem mais condições nenhuma de fazer ou apresentar algum projeto de reforma de credibilidade internacional para poder dirigir a grande nação brasileira.
Isso é um fato. Não sou eu que estou colocando, mas são fatos postos para todos nós. Então, seria uma decisão que ele teria que tomar. Mas a decisão é dele, não é de ninguém. Ninguém pode renunciar por ele.
Mas, caso isso não aconteça, há outros mecanismos para afastá-lo. Mas, neste momento, eu acredito que a própria nação brasileira vai exigir de seus congressistas que deixemos o povo brasileiro escolher o seu presidente por voto livre e democrático.
Não tem outra forma de se colocar um presidente. A Câmara dos Deputados, o Senado Federal com tantos parlamentares citados, e agora se anuncia 1.890 nomes de políticos que foram beneficiados pela JBS. Existe uma nota num portal falando sobre isso e aí fica muito difícil você ter credibilidade para escolher um presidente.
BNC – Que repercussão tem um fato desse na cúpula da República para o estado do Amazonas?
Omar Aziz – Veja bem. Eu não conversei com ninguém. Nós ficamos sabendo disso ontem à noite. Não tive nenhum contato com parlamentares do Amazonas. Eu conversei apenas com o (deputado) Pauderney (Avelino), mas nos deixa bastante preocupados, porque, de uma forma muito objetiva, mas não é só o estado do Amazonas, mas o Amazonas até sofre com essa crise econômica toda, mas o país está sofrendo. Mas, a gente volta à estaca zero depois de avançar, começar a sair da recessão. Voltamos à estaca zero em 12 horas.
Desde o anúncio até agora, todos as bolsas vêm caindo. Empresas brasileiras vêem no mercado das bolsas suas ações caírem drasticamente. E isso é muito ruim para a nossa economia.
Foto: Divulgação/Agência Senado