Ainda inebriado com o poder que subitamente lhe caiu ao colo, não ao acaso, o deputado David Almeida (PSD), governador circunstancial, encerrou a primeira fase política de sua gestão bem menor do que a iniciou, há pouco mais de um mês.
A percepção disso está em detalhes da entrevista que concedeu à imprensa na tarde desta quarta-feira, dia 14, a pretexto de falar sobre sua gestão interina, para anunciar nada de novo.
Para começar, David usou uma linguagem que lembra muito seu antecessor e líder, José Melo (Pros), ao tentar vitimizar-se em um processo político do qual conhece muito bem as regras, em jogo onde não existe inocência nem inocentes.
A semelhança com Melo é tanta que só faltou David dizer que era filho de seringueiro, comiseração substituída ao falar de sua origem pobre e ao lembrar do pai, operário de feiras e mercados de Manaus.
A presunção do poder, que se encerra ali logo, também ficou exposta na declaração que deu quando comentou o convite que recebeu para ser vice do ex-governador Amazonino Mendes (PDT):
“Dei três gargalhadas”, disse, tachando o convite de “ridículo”.
Mais que isso. Tentou passar a ideia de que não tem compromissos políticos, sem, contudo, dizer que ele era o terceiro na linha sucessória do estado pelas graças de seus líderes, contra os quais hoje se rebela.
David tem méritos. Não chegou à presidência da Assembleia Legislativa do Estado (ALE-AM) sem se mostrar merecedor do apoio de seus pares, muitos dos quais, hoje, tornaram-se incendiários do colega, e de seus líderes.
Não pode negar, como fez, que saiu do nada, pois na política o nada não existe.
Dos grandes estadistas espera-se grandeza. E não a esperteza da ocasião.
David poderia ter saído maior desse processo. Sabia, desde sempre, que não tinha partido político para uma disputa eleitoral no clube fechado.
Isso não significa dizer que o status quo deve ser mantido. Ao contrário, toda tradição significa tirar luz do novo. Mas, também, alcançá-la é um exercício de inteligência que só os grandes percebem.
Antes de combater o monstro é preciso conhecer a sua ossatura.
A partir do dia 16, daqui a pouco, portanto, a perspectiva de poder do atual governador se esvai e durará o tempo mais exíguo do que ele mesmo possa ter percebido.
Foto: BNC