Por Rosiene Carvalho e Neuton Corrêa , da Redação
Apoiado por aliados de José Melo (Pros) e Omar Aziz (PSD) em 2016 e vice de Eduardo Braga (PMDB) em 2017, o ex-deputado Marcelo Ramos (PR) reinicia a caminhada política em 2018 distante da disputa do Executivo para dar uma refrescada na imagem das alianças dos dois últimos pleitos.
“Eu sou um sobrevivente neste meio”, afirmou.
Com o capital do discurso abalado, Marcelo Ramos mira amparar sua nova fase política no histórico de vida “sem manchas de denúncia de corrupção”.
Pronto para a guerra eleitoral de 2018, o ex-deputado inicia a pré-candidatura com diagnóstico crítico sobre a bancada federal eleita em 2014: divide os deputados federais entre os ausentes e os “deputados de paróquia”.
“Essa bancada vai ter a chance de ser renovada agora”, avalia.
Com a língua afiada e com leitura antagônica ao do presidente estadual de seu partido, Marcelo Ramos afirma que Arthur faz gestão “desastrosa” de Manaus e que não dá para avaliar a gestão de Amazonino Mendes porque “não dá para dizer que há governo”.
Na entrevista ao BNC , acusa Omar Aziz (PSD), articulador da campanha de Amazonino Mendes (PDT), de derrubar suas tentativas de chapa ao Governo do Estado em 2017 e revela os problemas de relacionamento com o senador, colocando-os na “conta” do jogo político.
Sobre as operações da Polícia Federal no Amazonas diz esperar que os responsáveis pelo desvio do dinheiro público, que estão presos e os que ainda não estão presos, sejam punidos, acrescentando uma observação: o foro privilegiado impede a prisão de envolvidos com mandato.
Marcelo avalia o ex-parceiro de chapa, Eduardo Braga, e diz que entrou na eleição conhecendo nada e saiu respeitando-o como político.
A seguir, leia os principais trechos da entrevista concedida ao BNC nesta terça-feira, dia 16:
Rosiene Carvalho: Quem é Marcelo Ramos hoje após as Eleições de 2016 e 2017, depois das alianças e derrotas? O senhor já fez essa reflexão?
Marcelo Ramos: Sou um homem mais amadurecido. Porque as vitórias nos ensinam, mas as derrotas nos ensinam muito mais. Quem seríamos nós senão fossem os nosso erros, né? Nós cometemos erros, acertos. Ganhamos, perdemos. Foi um dos momentos mais duros para mim. Mas de aprendizado. Independente das minhas boas intenções a população não entendeu como tal. Mas é página virada e olhar para frente. É um teste, também. Mas pessoas fazem julgamentos às vezes justos, às vezes injustos.
Neuton Corrêa: O que é um julgamento justo e um julgamento injusto?
Marcelo Ramos: Nem todas as condicionantes do processo político são públicas. As pessoas não entendiam porque eu que fiz tanto esforço para ser candidato não fui candidato. Quando a pessoa diz que eu não fui porque não quis, é um julgamento injusto. Não fui porque a conjuntura política não permitiu que eu fosse candidato. Meu partido não deu a legenda porque não tínhamos aliança.
Não acho que o meu principal capital é o discurso. Acho que o meu principal capital é meu histórico político.
Neuton Corrêa: Você é um político que tem como principal ativo o discurso. O que acha que o eleitor pensa sobre aquele Marcelo de 2012 de 2014 que questionava o status quo e em 2016 e 2017 se aliou ao status quo?
Marcelo Ramos: Não acho que o meu principal capital é o discurso. Acho que o meu principal capital é meu histórico político. Tenho uma vida pública honrada. No atual momento do País, alguém que foi vereador, deputado, quase foi prefeito, que foi candidato a vice-governador e tem uma vida do ponto de vista ético irretocável, acho que esse é meu maior patrimônio. Tenho as contas por todos os órgãos que passei aprovada por todos os órgãos de controle. Com relação ao meu discurso, não foi na eleição passada que fiz flexões. Fiz em 2016.
Rosiene Carvalho: A entrada no PR
Marcelo Ramos: A entrada no PR já foi uma flexão. Acho que na vida pública, a gente faz escolhas. Há políticos que escolhem passar a vida toda marcando posição. São políticos que não pretendem ascender. Eu podia me satisfazer em ser a vida inteira um deputado estadual de oposição. Talvez eu tivesse dez mandatos. Agora, o que essa coerência serviu para quem está no ônibus lotado ou pegando chuva sem parada de ônibus, para quem não tem emprego ou não tem merenda para o filho na escola? Eu me acredito como agente de transformação, como alguém que pode ajudar o Amazonas a dar passos seguros para o desenvolvimento. Eu fiz as flexões que achei necessárias para alcançar esse objetivos. Algumas corretas, outras incorretas. Mas isso a vida vai encontrando o ponto de equilíbrio.
Neuton Corrêa: Quem é o Marcelo hoje?
Marcelo Ramos: O Marcelo hoje é o Marcelo meio termo daquele vereador que você acompanhou que era contra tudo e contra todos, que só encontrava virtudes em quem pensava igual a ele, que fez opções questionáveis pela população. E um Marcelo que entende que, sem abrir mão de princípios, deve fazer críticas ao que está acontecendo na vida pública no nosso Estado, País e cidade.
Rosiene Carvalho: Hoje o senhor é um político com menos ilusão sobre alianças, configurações políticas e ao discurso de oposição também?
Marcelo Ramos: Ao contrário, sou um político com muito mais ilusão e crente de que as coisas podem mudar. Agora, sou mais amadurecido, que entende que as mudanças no Brasil não se dão por rupturas, se dão por transições.
Tem um erro que acho que se pudesse voltar atrás mudava. Foi a troca de vice em 2016.
Rosiene Carvalho: Tem uma pergunta aqui de quem acompanha a entrevista ao vivo: que erro o senhor jamais cometeria de novo?
Marcelo Ramos: Difícil falar de um erro na obra depois que a obra está pronta (…) Tem um erro que acho que se pudesse voltar atrás mudava. Foi a troca de vice em 2016. Não pelo Wilson (Lima, apresentador de TV) e não pelo Josué (Neto, deputado estadual). Mas porque, para a imagem da candidatura naquele momento, eu perdia o comando do processo.
Salvo aconteça algo extraordinário, só vou precisar de vice em 2020, 2022.
Neuton Corrêa: Mas, por outro lado, você não teria o palanque também, né?
Marcelo Ramos: Teria. Porque meu time entrou em campo e o time adversário começou um briga no vestiário e chutaram o grupo do Omar (Aziz, senador) para fora. A candidatura com viabilidade era a minha. Sou muito grato ao Josué, a todos os deputados que caminharam comigo naquela oportunidade. Mas acho que teria o apoio mesmo que não tivesse trocado o vice.
Rosiene Carvalho: Tem uma pessoa se oferecendo para ser seu vice.
Marcelo Ramos: Obrigada. Mas, salvo aconteça algo extraordinário, só vou precisar de vice em 2020, 2022.
Entrei conhecendo quase nada e sai respeitando o Eduardo Braga como político (…) Não tem ninguém que é só maldade e ninguém que é só virtude .
Neuton Corrêa: Como ficou o seu relacionamento com o senador Eduardo Braga após as eleições?
Marcelo Ramos: Já falei com ele após a eleição e aí a gente precisa ser justo. Durante este período a relação com o senador Eduardo Braga foi absolutamente respeitosa com ele, com a família dele. Entrei conhecendo quase nada e sai respeitando-o como político. Pensamos diferente sobre muitas coisas, ressaltamos isso durante a caminhada e obviamente que essas diferenças não foram superadas. Mas eu o respeito como agente político como aprendi a respeita muita gente neste processo. Não tem ninguém que é só maldade e ninguém que é só virtude.
Deu choque, em determinado momento, a minha relação com o senador Omar (Aziz). Quando ele ultrapassou determinados limites, deu choque.
Neuton Corrêa: Chegou a levar aquele olhão do Braga?
Marcelo Ramos: Não tive absolutamente nenhum problema. Até criaram uns boatos. Eu sou muito transparente nas minhas coisas. Iria dar choque, pelo estilo dos dois. Como deu choque , em determinado momento, a minha relação com o senador Omar (Aziz). Quando ele ultrapassou determinados limites, deu choque.
Rosiene Carvalho: Quais limites ele ultrapassou?
Marcelo Ramos: Uma tentativa de impor o que eu tinha que fazer em 2017. Eu sou dono da minha história. Eu cheguei onde eu cheguei como vereador, deputado e a quase prefeito de Manaus como fruto da minha história. Eu não sou fruto de um pai ou cacique político. Sou fruto de cada tijolinho construído pelo militante estudantil, advogado trabalhista. Sou fruto disso. Então, ninguém é meu dono. Toda vez que alguém tentou ser meu dono, eu busquei outro caminho.
Por que essa parcela do eleitorado que se entusiasmava com a minha campanha não se entusiasmou com esse nomes? O que faltou no discurso deles para que tivesse esse nível de abstenção?
Rosiene Carvalho: O PR avalia como um erro não ter apostado na sua candidatura em 2017, pelo gasto que teve na campanha do Braga, pelo resultado das urnas e pelo processo político de 2018 ?
Marcelo Ramos: Houve uma frustração. Essa nova geração que tenta se posicionar num espaço ocupado ali na eleição de 2014 e 2016 tem que aprender também. Se me apoiaram em 2016 ou quiseram se abraçar comigo em 2017 foi pela firmeza do meu discurso. O Marcelo não foi candidato e não era o novo. Mas vamos lá houve outros candidatos. O Marcelo Serafim… um monte de candidato. Por que essa parcela do eleitorado que se entusiasmava com a minha campanha não se entusiasmou com esse nomes? O que faltou no discurso deles para que tivesse esse nível de abstenção?
Pessoas poderosas que me disseram: a chapa que você montar, nós vamos desmontar.
Rosiene Carvalho: O PR se arrependeu ainda durante a campanha?
Marcelo Ramos: O PR tem uma autocrítica. Mas, claro, eu entendo a posição do PR. Eu queria ser candidato, aquilo me doeu profundamente. Entendo que não podiam ir para uma aventura só e precisavam de uma aliança. Nesse processo de construir aliança, agiram forças muito poderosas. Pessoas poderosas que me disseram: a chapa que você montar, nós vamos desmontar. E desmontaram. Montamos uma chapa meio-dia, 19h estava desmontada…
Rosiene Carvalho: Quem falou isso?
Marcelo Ramos: … Entendeu? Então, eu acho que a gente precisa refletir mais e fazer processos mais abertos.
Eu sou um sobrevivente neste meio.
Rosiene Carvalho: Ignorou minha pergunta
Marcelo Ramos: Todo mundo sabe que eu tive um diálogo muito próximo de fechar uma chapa com o deputado Silas Câmara (PRB), que tem uma proximidade grande com o senador Omar. E aí, de forma republicana, do jogo político, agiu. É do processo político. Tem gente neste processo político com muito mais força que eu, porque tem mandato, porque já teve a caneta na mão, porque tem uma capacidade de articulação maior. Eu sou um sobrevivente neste meio.
Rosiene Carvalho: O eleitorado percebe desse jeito?
Marcelo Ramos: Algumas estão voltando. As pessoas digerem. Entendem as flexões dos políticos. O que elas não digerem é desvio de conduta (…) Se fosse só mudar por mudar, tinham outros nomes na Eleição de 2018. Teve candidato que disse que era o novo e não eu e teve na eleição 1%, 2%, 3%. Por quê? Porque as pessoas observam o que há de flexibilidade política, fruto do processo político contraditório como é o nosso, e o que há de mudança, de desvio de conduta comportamental e ética. E deste ponto de vista tenho muito orgulho de toda a minha vida pública.
Tem uma leitura assim: errou, fez burrada, mas se vier só, estou contigo de novo. Por isso, eu já morri e ressuscitei tantas vezes na política.
Rosiene Carvalho: O PR tem feito pesquisas qualis para avaliar o senhor após 2017?
Marcelo Ramos: Eu fiz uma na última semana fiz uma quali, uma um mês após a eleição. Fiz outra dois meses depois. Resultados completamente diferentes. Durante a eleição as pessoas estavam muito revoltadas. No pós-eleição já tinha um distencionamento. Dois meses já tem um outro observar das pessoas. Claro que isso varia por faixa etária, renda. Há um ajustamento. As pessoas começam a perceber o que aconteceu na eleição. Tem uma leitura assim: errou, fez burrada, mas se vier só, estou contigo de novo. Por isso, eu já morri e ressuscitei tantas vezes na política. Quando me filiei ao PR, fui bombardeado. Disseram que eu estava morto. Disputei a prefeitura e quase ganho. Quando declarei meu voto no segundo turno da eleição passada, também me mataram. Quando perdi para o Arthur me mataram, agora me mataram de novo. Faz a pesquisa, eu tenho 16% dos votos em Manaus. Quantos políticos têm 16% dos votos em Manaus e 14% no interior? Quantos? Não cabe numa mão. Logo depois de todo processo desgastante que eu vivi em 2017.
Acho que são muito eficientes nas questões paroquiais (…) Não é porque somos só oito deputados federais. Somos oito com baixa capacidade de fazer essa intervenção.
Rosiene Carvalho: O senhor é pré-candidato a deputado federal. Como avalia o desempenho da atual bancada do Amazonas?
Marcelo Ramos: Dos oito deputados eleitos, temos dois que são pré-candidatos ao Senado. Temos o Marcos Rotta (PSDB) que virou vice-prefeito. E dois deputados federais, que é difícil de avaliar o mandato, porque passaram mais tempo afastados, principalmente Arthur Bisneto (PSDB). Hissa (Abrahão, PDT) passou um tempo afastado. Os outros que exerceram mais o mandato, acho que são muito eficientes nas questões paroquiais. Não dá para não reconhecer a dedicação do Silas, do Átila (Lins) e da Conceição (Sampaio) nas questões nas demandas do homem do interior e tudo mais. Mas, eu sinto muita fragilidade da nossa bancada federal nos debates nacionais que interessam ao nosso povo. Aí somos frágeis. Não é porque somos só oito. Porque somos oito com baixa capacidade de fazer essa intervenção.
Neuton Corrêa: Não é difícil conseguir uma janela?
Marcelo Ramos: Romero Jucá é de Roraima. Isso diz muito.
Rosiene Carvalho: Arthur Neto é um exemplo de quem conseguia quebrar essa barreira?
Marcelo Ramos: O Arthur Neto é um exemplo. Ele quebrava pela eloquência, firmeza, coragem, pela intransigência na defesa dos interesses do Amazonas. O problema é que na hora que o bicho pega, o cara é mais governo que Amazonas. Eu acho que neste momento eu posso dar uma contribuição. Mas esse é o nosso pré-projeto para 2018. E eu não estou aqui para julgar e nem crucificar a nossa bancada federal. Essa bancada vai ter a chance de ser renovada agora, senão pela perda de mandato, mas pelo fato de que de oito, quatro não irão disputar o cargo. Só aí já vai ter uma renovação de 50%.
Neuton Corrêa: Uma pergunta da audiência é: como você avalia o desempenho do pré-candidato à presidência Bolsonaro e se você votaria nele?
Marcelo Ramos: Se tem alguém que não tem chance nenhuma de eu votar é o Bolsonaro. Ele representa do ponto de vista democrático tudo que eu abomino. Um homem precisa de comida, trabalho, mas também de liberdade e direito de emitir opinião, de divergir. Quem não tem compromisso com a democracia não terá nunca meu voto.
Neuton Corrêa: Queria que você fizesse também sua avaliação sobre o Lula.
Marcelo Ramos: Lula deu sua contribuição com o País. Viveu um momento bom e soube fazer desse momento um distribuição de renda. Mas se perdeu na história. Ele teve a chance de ser Mandela e escolheu ser Lula. Desesperançou muitas pessoas que acreditavam num projeto de esquerda. No entanto, não se pode desprezar nenhum dos dois. Acho que não é momento de extremos.
Rosiene Carvalho: O senhor não acha que está sendo muito rigoroso com o Lula? Está aplicando para ele um rigor que não quer para si mesmo?
Marcelo Ramos: O Lula tem desvios de conduta, de desvios comportamentais e éticos. Claro que foi muito refém de um modelo democrático nosso, dependente do Congresso. Mas não dá para comparar a flexão que o Lula fez para ter o José de Alencar de vice e a flexão de entrega de uma estatal para comprar voto de um partido. Não tem paralelo com a minha caminhada na vida pública.
Acho que o Arthur não representa o que eu penso para o Estado do Amazonas. A gestão desastrosa e ruim dele na prefeitura é a confirmação e demonstração disso.
Neuton Corrêa: Você aceitaria ser vice do Arthur numa campanha ao Governo do Estado?
Marcelo Ramos: Não vou ser vice de ninguém. Duvido muito que Arthur seja candidato a governador. Acho que o Arthur não representa o que eu penso para o Estado do Amazonas. A gestão desastrosa e ruim dele na prefeitura é a confirmação e demonstração disso. O Alfredo é presidente do meu partido. Tem direito de abraçar e conversar com quem bem entenda. Também converso e abraço muita gente que ele não concorda.
Rosiene Carvalho: Eu ia perguntar justamente isso. Se o senhor concordava com o Alfredo Nascimento que a gestão de Arthur Neto o credencia à disputa de 2018.
Marcelo Ramos: Eu discordo radicalmente. Eu tenho visões diferentes do Alfredo, o que é natural. O que nos unifica é o desejo de organizar o partido, um partido em que as pessoas tenham direito de pensar diferente. Eu não penso que a gestão é ruim por impressões. Penso que é ruim pela buraqueira na periferia, por nenhuma inovação no processo educacional, por uma grave crise na rede saúde, por uma crise interminável no trânsito sem uma ação estruturante. Então, eu não consigo ver efeitos concretos de uma administração que justifique que ele possa ser qualquer outra coisa. Acho que o Arthur é um cara que tem uma trajetória bonita na vida parlamentar, mas uma tradição de mandatos no executivo desastrosos.
A decisão do PR é coletiva.
Rosiene Carvalho: O senhor se esquivaria desse palanque PR/PSDB?
Marcelo Ramos: A decisão do PR é coletiva. O partido tem um líder que é o Alfredo, presidente estadual. O que eu posso dizer é que que não vou me embandeirar numa candidatura que represente coisas que eu não acredito
Não dá para dizer que existe governo. O Governo do Estado do Amazonas age por impuls o.
Rosiene Carvalho: Amazonino Mendes vai bem no Governo? Está conseguindo arrumar a casa?
Marcelo Ramos: Não dá para dizer que existe governo. O Governo do Estado do Amazonas age por impulso. As crises que estavam estabelecidas, continuam estabelecidas. E o que funcionava bem continua do mesmo jeito. O que talvez tenha de inovação é que depois de uma série histórica em que o Estado empenha mais do que realiza de receita. Pela primeira veze este ano tivemos uma receita realizada, R$ 500 milhões, abaixo do realizado. Se isso simboliza equilíbrio ou não, aí precisa se debruçar mais nas contas do Governo. Porque tem muito autorizado. Se foi autorizado e não empenhado tem dívida do mesmo jeito. Pelo portal transparência não dá para saber. É um número que, à primeira vista, parece um número de equilíbrio fiscal, o que é uma novidade para o Amazonas desde 2009. Mas eu não tenho convicção.
Neuton Corrêa: Qual sua opinião sobre a prisão do ex-governador José Melo que o senhor apoiou no segundo turno da eleição de 2014.
Marcelo Ramos: Vejo muita gente que bebeu nessa fonte. Deputados que votaram o tempo inteiro com ele, tirando fotos com ele. Boa parte de setores de comunicação que também tinha relações com o Governo e agora está chutado que nem pirento. Acho que ele tem que responder por crimes que eventualmente cometeu nos limites estritos da lei. Não consigo me vangloriar da prisão de ninguém e nem torcer pela prisão de ninguém. Quem comete crime está correndo o risco de pagar isso com prisão. Espero que as investigações sejam conclusivas em relação a ele e em relação aos outros que estão presos e em relação aos que ainda não estão presos, mas que também participaram desse processo de desmonte da saúde pública em prol de interesses privados.
Rosiene Carvalho: Qual a consequência da operação para o Amazonas?
Marcelo Ramos: Não sei se vocês observaram um detalhe. Peço que observem. Publicaram o organograma da Maus Caminhos. Ali tem o Mouhamad e tem todas as outras figuras: secretários, governador e tal. Em cima do Mouhamad tem um quadrinho assim que está escrito: sócio oculto. Quem é o sócio oculto?
Rosiene Carvalho: O senhor tem alguma opinião sobre isso?
Marcelo Ramos: Um problema é que o Brasil vive um processo de limpeza de quem tem foro privilegiado. Quem não tem foro privilegiado está preso. Todos. Todos com for privilegiado estão soldos com inquérito instalado no Supremo. Para que a gente tenha uma segurança de um processo de mudança temos que esperar o desenrolar desse inquéritos no STF para o Brasil e para o Amazonas. Depois disso, vamos enxergar que País e que Amazonas vai sobrar do ponto de vista político.