Governador três vezes, prefeito de Manaus três vezes e uma vez senador da República, Amazonino Mendes (PDT) realiza nesta eleição acidental do Amazonas o seu maior feito político.
Há cinco anos descansando no mausoléu político que escolheu para ouvir o silêncio do fim da intensa era de seu poder, em uma casa do nobre mogno, construída entre árvores nativas à beira do Tarumã, no dia 6 de maio deste ano, um sábado, de manhã, ele recebia a visita do marqueteiro e amigo Egberto Batista, que lhe fez a seguinte comunicação:
– Você é o candidato do Omar!
– Do Omar? Ele quer isso mesmo?
Confirmada a indicação, os dois deixaram a conversa combinando que o segredo deveria ser mantido até a evolução dos acontecimentos.
Dois dias antes, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) havia cassado o mandato do então governador José Melo (Pros) e seu vice, Henrique Oliveira (SD), e determinado eleição direta para eleger o governador tampão.
Àquela altura, Amazonino ainda duvidava de si mesmo. Afinal, o senador Omar Aziz (PSD) sequer o visitava como ele gostaria.
Além disso, cinco anos atrás, com a imagem saturada após quase 30 anos de mandatos, a baixa popularidade de sua gestão no município e castigado pelo “então, morra”, ele havia tomado a mais difícil decisão para os que já provaram a cachaça dos cargos mais importantes do estado: abster-se dela.
Exatamente três meses depois daquele encontro com o mago, como Egberto é conhecido, um fato se confirma: Amazonino, que havia saído da vida (política) para entrar na história, sai agora da história para entrar no mundo dos mitos, antes mesmo do fim derradeiro dessa passagem épica.
Amazonino venceu no primeiro turno da eleição suplementar desafiando a inteligência de qualquer marqueteiro. Enquanto seus oito adversários prometiam de tudo, o ex-governador prometia nada, não puxou confronto com ninguém e adotou a mais difícil abstração como discurso: o amor.
E mais: em três semanas, no segundo turno, terá um tira-teima com o senador Eduardo Braga (PMDB), a quem ajudou a eleger em 2002, em um gesto de reconciliação após o racha que tiveram quatro anos antes, e que se tornou, em dois mandatos, o governador com os mais altos índices de aprovação da história do estado.
Independentemente do que ocorrerá daqui para frente, até o dia 27 de agosto, o ex-governador Amazonino Mendes já construiu uma biografia rara na história política do Amazonas.
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