Por Neuton Corrêa e Rosiene Carvalho , da Redação
O candidato e senador Eduardo Braga (PMDB), em entrevista ao BNC nesta segunda-feira, dia 31, declarou que as pesquisas eleitorais no Amazonas são manipuladas e feitas por cabos eleitorais dos candidatos. Braga deu esta resposta ao ser questionado sobre os dados de sondagens indicando o eleitorado dele, que liderava todas as pesquisas antes da campanha, desidratar desde o início da disputa.
“O Amazonas está acostumado com manipulação das pesquisas. O que a gente tem visto são cabos eleitorais se transformarem em pesquisadores. Dou importância à campanha olho no olho, conversa com eleitores”, afirmou.
Nesta terça-feira, dia 1º, novas pesquisas do instituto #Pesquisa365 e do Diário do Amazonas apontam Braga em segundo lugar com riscos de ser ultrapassado pela terceira colocada Rebecca Garcia (PP) e de sequer chegar ao segundo turno.
Na entrevista exclusiva ao BNC , Braga também admitiu que é candidato a governador em 2018 porque, segundo ele, um plano de governo que atenda às necessidades do Amazonas precisa ter metas mais longas e ser executado. Braga fez críticas no varejo e no atacado ao governo de seus ex-aliados Omar Aziz (PSD) e José Melo (Pros).
Num eventual segundo turno, Braga disse que vai usar os 21 dias de campanha para comparar a gestão dele no Governo do Amazonas com a dos ex-governadores Omar Melo (Pros) e de Amazonino Mendes (PDT), que atualmente lidera as pesquisas.
Braga acusou os sucessores de destruírem parte do que o governo dele construiu e apontou problemas específicos em unidades de saúde, na capital e no interior, na Educação e na Segurança Pública durante a entrevista.
Segundo o candidato, uma das questões mais graves que ele constatou durante a campanha foi o abandono de delegacias no interior do Estado, a inexistência de policiais civis e policiais militares trabalhando sem estrutura adequada. “São os presos que cuidam das delegacias”, afirmou.
Para o senador, quando a população se der conta de que os candidatos adversários, Rebecca Garcia e Amazonino Mendes, são apoiados pelos aliados do Governo Melo, o projeto deles não terá prosperidade. Para Braga, isso pode ficar mais claro num eventual segundo turno.
“Neste segundo turno haverá 21 dias de campanha. Aí poderemos comparar as gestões. Recebi 72 obras inacabadas que ele mostra na televisão como se fosse dele”, disse.
Abuso do poder político e governo
Braga disse que questões que levaram o governador José Melo a ter o mandato cassado se repetem nesta disputa. O senador afirma que a Prefeitura de Manaus e o Governo do Estado estão sendo usados para desequilibrar a disputa em favor de Amazonino Mendes e Rebecca Garcia, respectivamente.
Segundo o candidato, várias denúncias e provas estão sendo reunidas pela equipe jurídica de sua campanha e serão apresentadas ao Ministério Público Eleitoral (MPE) e à Justiça Eleitoral.
“O estado democrático estabelece exatamente isso. Em vez de você ficar na TV falando isso e aquilo outro, deve se documentar, fazer as colocações, apresentar os documentos ao Ministério Público e à justiça eleitoral e eles vão fazer as investigações se aquilo é verdade ou mentira”, disse.
O candidato insinuou que campanhas pagam para lotar comícios no interior do Estado e que uma aeronave “de um deputado federal”, cujo aluguel é caro, está sendo usada irregularmente para deslocar candidato no interior.
Eleição direta x indireta
O senador disse defender eleição direta no Amazonas e nacionalmente para se ter legitimidade em realizar as medidas necessárias para retirar o Estado e País da crise econômica e criticou adversários que tentam impedir a escolha do novo governador pelo voto direto.
Lava-Jato
Questionado se havia recebido propina em seu Governo de empreiteiras, cujos delatores o acusam de corrupção para que as construtoras conseguissem realizar obras no Amazonas, Braga negou.
Marcelo Ramos
O candidato afirmou que não se arrepende de ter escolhido um crítico de sua vida política para ser candidato a vice dele. Antes das convenções, Marcelo Ramos (PR) era o nome que, segundo as pesquisas eleitorais, tinha chance de derrotar Braga ou Amazonino no segundo turno.
Mas, sem partido, nas vésperas das convenções virou vice de Braga. A união, segundo pesquisas eleitorais, não ampliou a vantagem de Braga na disputa. Ao contrário, houve queda no número de intenção de votos.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista ao BNC ou a entrevista na íntegra neste link :
Rosiene Carvalho: O senhor é o candidato que começou a campanha com maior intenção de votos e o que mais perdeu, de acordo com as pesquisas eleitorais. Como um candidato se comporta na última semana, nesta condição?
Eduardo Braga (EB): O Amazonas está acostumado com manipulação das pesquisas. O que a gente tem visto são cabos eleitorais se transformarem em pesquisadores. Dou importância à campanha olho no olho, conversa com eleitores. Eu consegui em apenas quatro finais de semana visitar 50 municípios do Estado do Amazonas. Sei o que está acontecendo e vi o que está acontecendo no interior do Estado.
Rosiene Carvalho: Qual situação lhe surpreendeu durante a campanha no interior, que o senhor encontrou em condição pior do que imaginava?
EB: Delegacias abandonadas. A Polícia Civil inexiste no interior. Poucos policiais militares sem condições de trabalho.
“Recebi 72 obras inacabadas que ele (Amazonino Mendes) mostra na televisão como se fossem dele (Amazonino)”.
Rosiene Carvalho: Seus dois principais adversários têm no palanque pessoas que compunham a base aliada do governo Melo, que era mal avaliado pela população. A que o senhor atribui a população não avaliar a política dessa maneira considerando que os dois crescem nas pesquisas?
EB: Eu acho que a população não se deu conta. Está começando a se dar conta. Só fizeram troca Z por A. Mesmo grupo político, com o mesmo plano e mesmo projeto. Melo foi cassado por fraude eleitoral, que significa ter roubado a eleição. (…) Daí, eu achar que, pelas pesquisas que vocês mesmos falaram, que há uma consolidação de segundo turno. E neste segundo turno haverá 21 dias de campanha. Aí poderemos comparar as gestões. Recebi 72 obras inacabadas que ele (Amazonino Mendes) mostra na televisão como se fossem dele. Recebi o Cecon dentro de containers, suei muito para construir que, aliás, até hoje não foi concluído. Sete anos depois dos governos que me sucederam, têm andares inteiros que não foram colocados para funcionar no Cecon. (…) Policlínicas foram todas construídas por mim e destruídas por eles. Fizemos uma rede de Upas projetadas e com recursos depositados na conta do Estado. Construíram a UPA do Campos Sales e não fizeram mais nada. O concurso para os que iam operar as Upas não fizeram preferiram colocar uma empresa da “Maus Caminhos” para operar a Upa Campos Sales. Essa é a diferença entre o Governo Omar, Governo Melo, Governo Amazonino e o meu Governo. Isso que esperamos poder debater no segundo turno.
“Estamos, de novo numa eleição, em que uma candidata é apoiada pelo Governo do Estado com a máquina pública. Por outro lado, a prefeitura não está fazendo nada diferente”.
Neuton Corrêa: A campanha chega à reta final, neste ponto a campanha está dentro das expectativas que o senhor imaginava para esta disputa?
EB: Cada eleição é uma eleição. Estamos, de novo numa eleição, em que uma candidata é apoiada pelo Governo do Estado com a máquina pública. Por outro lado, a prefeitura não está fazendo nada diferente. Está obrigando pessoas a colocarem adesivos nos seus carros, obrigando cargos comissionados a fazer bandeiraços, a virarem cabos eleitorais. O que eu não esperava era ver repetido o abusodo de poder, que aconteceu em 2014. Melo foi cassado exatamente pela forma abusiva com que ele usou o Governo.
Rosiene Carvalho: Sua equipe jurídica está monitorando estes abusos que o senhor relaciona?
EB: Fazemos o que podemos. Nessa eleição, basicamente se trabalha com recursos próprios ou recursos do fundo partidário. Você não tem outra fonte de recurso. Eu tive dificuldades de recursos na minha campanha. É uma campanha muito mais pobres que as outras campanhas.
Neuton Corrêa: Como o senhor se desloca para o interior? Como vai pagar?
EB: Quem está pagando é o nosso fundo partidário. Estamos voando de hidroavião, king air e caravan. Fiz só um vôo de jato porque o king air estava alugado. Mas vi um learjet 45 novinho voando pelo interior do Estado.
“Esse tipo de crime acontece e depois acusam a gente de perseguição política”.
Neuton Corrêa: Para qual candidatura?
EB: Prefiro deixar para que a área jurídica cuide. Tem um Learjet 45 pertencente a um deputado federal de um determinado partido. Jato particular, que não pode ser alugado para a campanha, que está irregularmente fazendo campanha política. Está filmado, documentado etc e tal. Esse tipo de crime acontece e depois acusam de perseguição política. Agora, posso alugar por R$ 700 mil um jato particular de um deputado, por interferência de pessoas do meu partido, e achar que isso está correto. É claro que não está.
Rosiene Carvalho: O senhor tem disposição para um novo embate jurídico?
EB: O Estado democrático estabelece exatamente isso. Em vez de você ficar na TV falando isso e aquilo outro, deve ser documentar, fazer as colocações, apresentar os documentos ao Ministério Público e à justiça eleitoral. Eles vão fazer as investigações se aquilo é verdade ou mentira. Eu acho que cada vez mais as investigações serão feitas no exercício da cidadania. O cidadão fica indignado de ver um comício acontecer com muitas pessoas a base de dinheiro para as pessoas irem para o comício.
Neuton Corrêa: Essa é uma prática comum?
EB: Com sinceridade, eu nunca fiz isso. Não é por pureza, ou pensar ser melhor ou pior que os outros. É porque eu sempre achei que, na minha pouca experiência de 35 anos de vida pública, eu acho que isso é ineficiente. Por outro lado eu acho um ato de desrespeito à democracia.
Neuton Corrêa: A punição para José Melo não foi pedagógica, então?
EB: Eu acho que foi importante. No entanto, ainda há muitas incertezas na cabeça do eleitor. Plantada por interesses outros. Tem gente interessada que tenha eleição indireta. Tem gente interessada que não tenha nenhum tipo de eleição. Tem gente que tem interesse de trazer José Melo de volta. Tem para todo gosto. Eu acho que para que se tenha legitimidade para fazer as mudanças que o Amazonas precisa, é necessário eleição direta. Aliás, digo isso em plano nacional.
“Como esse candidato tem uma idade avançada pressupõe-se que ele não seria candidato e abriria o caminho para outros interessado no poder. Esse é o jogo de poder”.
Rosiene Carvalho: O senhor tinha legitimidade de requerer na justiça a sua posse imediata após a cassação de José Melo e, por outro lado, é acusado por adversários de querer o poder pelo poder. Como o senhor lida com essas questões na campanha?
EB: Primeiro, eu querer o poder pelo poder? Não sou eu que estava aposentado e o mesmo grupo político que destruiu o no Estado e construiu uma candidatura por uma questão de poder. Como esse candidato tem uma idade avançada pressupõe-se que ele não seria candidato e abriria o caminho para outros interessado no poder. Esse é o jogo de poder.
Rosiene Carvalho: Seu nome foi citado pelo menos três vezes na investigação Lava-Jato. O senhor recebeu propina? Cobrou propina no seu Governo para que empresas ganhassem licitação para fazer obras?
EB: Essas citações são absurdas. Todas elas, mentirosas. Sem nenhuma prova. Por que eu defendo a investigação? Porque a justiça tarda, mas não falha. Assim como a justiça tardou, mas provou que o Zé Melo fraudou as eleições, cassou e puniu José Melo. Tenho certeza que a justiça provará que essas citações são mentirosas. De alguém que estava preso, que estava fazendo citação a qualquer custo para tentar sua liberdade. Portanto, quem não deve não teme. Respondo a essa sua pergunta com toda naturalidade porque o Prosamin está aí há 14 anos. Auditado pelo Tribunal de Contas.
“Eu e Marcelo nos juntamos com propostas. Não entendo que pecado há nisso. Não entendo porque isso incomoda tanto as pessoas”.
Rosiene Carvalho: Seus adversários usaram em maior escala a união com Marcelo Ramos para atacar o senhor que a Lava Jato. O senhor acha que Marcelo teve um peso negativo maior na sua campanha que a Lava Jato?
EB: Perdoe-me, mas eu e o Arthur nunca estivemos juntos e nos juntamos na eleição passada, porque queríamos contribuir de uma forma diferente. Na democracia, qual o pecado entre pessoas que pensam de forma diferente se juntarem para enfrentar uma grande crise. Estamos vivendo a maior crise do Estado do Amazonas. Eu e Marcelo nos juntamos com propostas, que não conseguimos ver na campanha dos nossos adversários, consistentes e com prazos estabelecidos. Não entendo que pecado há nisso. Não entendo porque isso incomoda tanto as pessoas.
Neuton Correa: Isso atingiu a sua campanha?
EB: Ao contrário
Rosiene Carvalho: O senhor não se arrependeu de escolher Marcelo Ramos para vice?
EB: Ao contrário. Marcelo é um rapaz talentoso e competente. Tem futuro político brilhante no Estado do Amazonas. Aqui no Amazonas, Amazonino e Omar têm muita coisa para explicar. Como outros. Eu não estou me escondendo. Eu estou indo em ambientes que sei que são patrocinados e tem vinculações muito próximas com meus adversários. Eu não estou me escondendo. Porque quem não deve não teme.
Rosiene Carvalho: Candidato, em 2014, quando o senhor foi derrotado, até aliados seus criticavam sua postura acusando o senhor de arrogante, de ser uma pessoa que não sabe lidar com críticas, com perguntas de jornalistas. O que mudou no senhor ou não foi preciso alterar nada na sua personalidade?
EB: Eu amadureci, tenho 56 anos hoje. Mais maduro e mais vivido. O que percebo que as pessoas querem confundir ser enérgico com ser grosseiro. Não admito que falte medicamento num hospital se o Estado tem dinheiro. Ser duro para fazer o enfrentamento com o crime organizado. Ter pulso firme para pôr ordem na casa não é ser arrogante. Uma estrada com dinheiro financiado pelo BNDES, depois de sete anos, estar no quilômetro 30. O que explica isso?
Rosiene Carvalho: O que explica?
EB: Falta de gestão, falta de energia, de pulso firme. Digo aqui, com muita humildade, se o povo me der esta oportunidade na ciranda do ano que vem vamos inaugurar a duplicação da estrada Manaus/Manacapuru. Como fiz a Ponte, deixei praticamente pronta para o meu sucessor. Como fiz o Prosamin, a estrada da avenida das Torres que há sete anos não consegue ser concluída. Então, o que alguns tentaram é transformar a minha virtude em algo depreciativo.
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Foto: BNC